Desde
muito cedo em minha vida tive uma atração por trabalhos manuais, construir ou
restaurar coisas, minhas tentativas com meu avô são de saudosa lembrança,
construíamos galinheiro no quintal de casa e algumas outras pequenas coisas. Do
processo de construção uma etapa muito me impressionava, era a construção do
telhado. Pegávamos latas de óleo de soja vazias, retirávamos as duas
extremidades, cortávamos a lata e a abríamos como uma folha, isso feito, rebatíamos
as rebarbas para não ocorrerem cortes acidentais e para retificar as latas.
Desenvolvemos um sistema simples de encaixe das latas, de forma a não vazarem
em caso de chuva e, depois de tudo feito, uma a uma pregávamos sobre o
engradamento de madeira.
Ficava um telhado multicolorido e bastante durável,
custo baixo, e era uma excelente ocupação para um idoso aposentado e um menino
de folga da escola (confesso que meu avô era o rei da paciência para conseguir
trabalhar comigo).
Outra
tarefa divertida era construir carrinhos de rolimã com os amigos, especialmente
um que era filho de um carpinteiro muito hábil e aprendera com o pai muitas
habilidades interessantes. Certa feita, decidimos construir um carrinho mais
robusto, quatro lugares, e nos entregamos de corpo e alma à tarefa. Vendo
nossos esforços e que a coisa estava indo bem, meu pai deu um grande apoio
solicitando aos mecânicos da empresa em que trabalhava para fazer os eixos e um
sistema de direção e freios. Ao final tínhamos um carrinho bem maneiro e que
foi diversão garantida por um bom tempo.
Muitas
outras ideias tivemos e tentamos realizar. Com o passar dos anos toda esta
criatividade e disposição foram ficando de lado, afinal, trabalhos manuais não
dão tanto retorno financeiro e as ocupações diárias, responsabilidades, deveres,
obrigações foram deixando esse interesse adormecido, embora esporadicamente
tenha reaparecido e eu tenha feito tentativas de criar coisas com as próprias
mãos. Sim, gosto muito de artesanato e sei o trabalho que dá.
Recentemente
me vi novamente atraído para essa velha tendência, fazer coisas com as minhas
mãos e principalmente aproveitar aquilo que seria descartado. Assim comprei uma
máquina de furar e um kit de brocas para iniciar um novo hobby. Depois saí em busca
de materiais no sítio, sempre que via galhos e pedaços de madeira ficava
imaginando o que fazer para aproveitar melhor. Daí encontrei inspiração nas
fotos do Pinterest e decidi fazer
experiências.
Peguei
alguns pedaços de madeira, levei para casa e comecei um aprendizado. Como não
poderia deixar de ser, juntamente com o trabalho na madeira fui aprendendo
sobre a vida, pensando e pensando nas aplicações dos processos no meu dia a
dia.
Primeira
lição: dar valor a coisas que estavam
destinadas ao fogo, ou a apodrecerem e virarem pó. Sim, essa é uma atribuição
do “artista”, encontrar valor onde todos veem entulho. Mas, isso não é tudo,
para uma peça aparentemente inutilizável, é necessária uma limpeza profunda na
peça retirando dela sujeiras, partes soltas, partes apodrecidas, partes inúteis
ao projeto, pontas que possam causar ferimentos, enfim retirar tudo que não
seja adequado, primeiro com um jato de água, depois com uma escova de aço, se
necessário também com ferramentas de corte e lixa. Tudo isso para deixar a peça
em condição de ser trabalhada. Enquanto todo este trabalho é feito, uma pilha
de resíduos é gerada e uma coisa meio “mágica” acontece: a beleza da peça vai se revelando, as nuances
de cores, movimentos das fibras, formas surpreendentes e ideias vão surgindo na
mente do artesão, para o melhor uso daquela peça. Tivesse a mesma sido deixada
na lama onde estava, nada disso aconteceria e a beleza passaria desapercebida!
Isso me trouxe à memória o texto de Paulo a Tito:
Tt 2;11-12 Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora
a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as
paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente,
Assim como a madeira, para que nossa vida seja o que dela se espera, é
mister renegar, (renunciar, desconsiderar, deixar para trás, desconhecer) a
impiedade (falta de temor a Deus, sem considerar a Deus) e às paixões mundanas
(desejo pelo que é proibido, anelo, anseio, luxúria). Sem uma profunda limpeza,
que no nosso caso se chama arrependimento, não será possível surgir uma nova
vida. Não, não basta um pouco de remorso, culpa, pesar, não! Arrependimento
profundo e verdadeiro é a única forma de ser limpo para que se possa viver
então neste século uma vida sensata (com a mente sã, sobriamente, de forma
moderada), justa (segundo a justiça, apropriadamente, de acordo com a justiça)
e piedosamente (de acordo com o temor de Deus, buscando o reino de Deus em
primeiro lugar).
Jamais
conseguiremos trazer à luz o melhor de nossas vidas, sem esta limpeza profunda.
O processo de limpeza pode parecer duro, implacável até, mas absolutamente
necessário para a obtenção do resultado final.
Sim,
como seres humanos afastados de Deus estávamos todos destinados ao fogo, porém
Sua graça se manifestou salvadora e nos ensina!
Segunda
lição é que durante o processo tudo parece que será inútil, mas quando este é
finalizado vem a satisfação de haver criado algo belo. A exemplo, sua vida,
neste momento, pode estar parecendo um caos, mas, acredite, o “Artesão” está
acompanhando cada parte do processo e já vê a obra finalizada, e está feliz!
Terceira
lição é a necessidade de ferramentas, materiais e habilidades adequadas ao
processo. A utilização desses elementos de forma harmônica facilita
tremendamente o trabalho, da mesma forma em nossa caminhada, se desenvolvermos
nossas habilidades (dons e talentos) e utilizarmos as ferramentas (palavra de
Deus) e materiais adequados (relacionamentos) os resultados serão em muito
facilitados e a qualidade final excelente.
Quarta
lição, a maleabilidade aos imprevistos,
por vezes imaginamos algo de início e no decorrer dos trabalhos temos de
adequar o projeto às realidades das peças, Quantas vezes precisamos ajustar
nossas vidas às intempéries do dia, alterando o curso, mas mantendo a direção.
Quinta
lição a satisfação obtida com um projeto concluído, criados que fomos à imagem
de Deus, acredito ser inerente a cada ser humano a criatividade, o poder de
trazer à luz o belo, o admirável, o essencial, os tesouros escondidos nos
objetos e pessoas em sua “forma bruta”, muitas vezes feia e desprezível, mas ao
passar pelas habilidosas mãos do “Artista”, obras primas são reveladas. A
beleza escondida é manifestada, o tesouro oculto é revelado. E o Criador pode
olhar e ver que tudo é muito bom!
Certamente
à medida que continuar nessa atividade, inúmeras lições ainda aprenderei, por
hora estas já me deram grande alegria, espero que você que tirou este tempo
para ler até aqui encontre em seu viver a criatividade perdida em algum ponto
de sua vida e volte a desfrutar deste aspecto de sua semelhança com o Criador.
E lembre-se, estamos todos em obras, em nossa limitação ainda não sabemos o que
será no fim, mas o habilidoso “Artista” está nos moldando em suas mãos e o
final será glorioso!
Eu tambem tive um amigo como esse que vc descreveu, e alem de carrinhos de rolemã e um carro "de quatro lugares", construímos uma mesa de som "poderosa", um reboque rodoviário de pedaços de ferro e sucata de chapas de alumínio tiradas de um velho ônibus encontrado no ferro velho, onde realizamos a venda livros e discos LP's com a ajuda de outros "amigos", e tantas outras coisas que nem lembro mais, mas essa amizade com o tempo ficou "pesada" com o jugo colocado sobre minha cabeça e a amizade morreu... Como o beija flor: que teimava em sair, não pelas porta e janelas como parecia óbvio ao escritor, mas pelo teto da sala, e assim a amizade morreu como o beija flor, e isso me dói ate os dias de hoje.
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ResponderExcluirObrigado pela sinceridade do comentário, esta é uma página de minha história que foi mau resolvida. só me resta reconhecer as faltas e humildemente pedir perdão pelos erros cometidos.
Faltou-me maturidade, experiência, cuidado, disposição de ir ver o que estava acontecendo, interesse genuíno no bem estar do amigo ferido... Por tudo isso por favor me perdoe.
Espero que leia esse parágrafo e que possamos nos encontrar e curar essa dor, que é mútua.