O medo de errar

Texto de Carolina Leite Dutra. 

O medo de errar 

Quantas coisas deixamos de tentar por medo de errar.
Ou quantas vezes transformamos um erro num instrumento de tortura e depreciação pessoal capaz de nos levar ao mais fundo dos poços, no auge da nossa auto piedade. 
E assim paramos de tentar e concluímos que os outros sabem mais, são melhores e por algum motivo alheio foram dotados de mais talento, graça e sorte.
E no final dessa caminhada espera-se encontrar uma plateia imensa sorrindo e sentindo pena de você, dizendo que será diferente, que alguém virá com uma varinha mágica no próximo episódio e te transformará em alguém fabuloso e colocará um cartão de crédito ilimitado em sua carteira discretamente.
Mas  não. 
Não haverá platéia, não haverá risos, não haverá nada. Não haverá ninguém.
Tá bom, as vezes tem alguém na platéia que dá um sorriso meio forçado e tenta te animar, ansioso para que o espetáculo acabe e que você assuma sua verdadeira identidade e vá viver sua vida de fato. 
E quando o personagem não desencarna e vai com você pra casa, para o trabalho, dizendo a todos por entre as linhas como você é importante e como é, você sabe, igual aos outros, e ele fala com o porteiro,  com o motorista do ônibus, fala com a faxineira do prédio, a atendente do banco, o caixa da padaria, de alguma forma mostra a todos como é alguém que se encaixa, que é como deveria ser, que deve ser bem visto. E essa busca desesperada por reconhecimento e aceitação que começou  com medo de errar, medo de tentar, falta de coragem pra lutar agora vira uma brincadeira da camuflagem e você torce para que ninguém perceba que lá no fundo você não é nada daquilo, uma parte até queria ser mas outra não faz a menor questão, você apenas quer ser aceito, admirado, quer fazer parte de um todo.
Mas porque mesmo estamos falando disso? Ah sim, o medo de errar. Antes de tentar você sofre, você olha ao seu redor e vê como os outros fazem bem feito, como a linha segue reta e o lápis não treme, não borra, não hesita.
Mas o seu lápis continua ali, parado, com a tampa, dentro da caixa. 

Mas um dia eu peguei o meu lápis e decidi tentar. E decidi tentar até eu conseguir.
Eu errei algumas vezes e transformei o meu erro num instrumento de tortura e depreciação pessoal capaz de me levar ao mais fundo dos poços, no auge da minha auto piedade. E assim parei de tentar.... e esperei a varinha mágica que não veio...o cartão de crédito então passou longe...veio a plateia vazia, o personagem andando pelas ruas, a camuflagem, até que eu decidi tentar de novo e de novo, e não mais transformar o meu erro num instrumento de tortura, mas transformá-lo num aprendizado leve, divertido, engraçado. E decidi que eu ia errar muitas vezes. E que não temeria mais, erraria tentando acertar até conseguir.
Claro, errar não é gostoso, mas é preciso rir dos próprios erros e continuar tentando. E num dia despretensioso como outro qualquer eu consegui, meu lápis não tremeu, não borrou, não hesitou e meu traçado ficou perfeito!
Só eu sei quantas vezes chorei e minhas lágrimas caíram no papel, misturaram-se ao desenho borrado e ficou tudo mais borrado ainda. Mas só eu sei também como é bom errar e como o erro produziu o acerto que enfim chegou para mim.
Não quero ter mais medo do erro. 
Quero errar, errar, errar! Não me importa se vai ficar salgado, se vai queimar, se vai ficar torto ou se alguém não vai gostar.
Não ter medo de errar é ser livre. Vale a pena tentar! 
E se você errar, pode me chamar, eu te ajudo a limpar ou concertar!
Só não me chama pra fazer parte da platéia, pra sorrir forçado e sentir pena de você, ah isso não! 
Mas pra dar a mão, ajudar a levantar, conversar, encontrar um jeito de melhorar, ah, pra isso nós vamos lá!
E no dia que você acertar e sentir a gratidão e alegria, eu quero estar lá.
Para te abraçar forte, olhar nos seus olhos e vê-los brilhar.
E te ouvir dizer com a voz embargada:
“Valeu a pena tentar. Valeu a pena lutar. e mais que tudo, valeu a pena errar”

No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. 1 João 4:18



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